27 agosto 2010

Favela, favela, favela

Quando lá cheguei não fazia frio, nem calor. Era uma temperatura amena, com um sol claro e brisa constante. Ele veio me receber do lado de fora, local seguro, como me instruiu.

Nos cumprimentamos. Cada vez mais acho que as pessoas aparentam a profissão que têm e nesse caso não foi diferente. Guilherme tinha mesmo cara de gerente de banco. Chegou sorridente, um pouco esbaforido, sem esconder a ansiedade que sentia da situação. Acredito que me encontrar, sorrindo e satisfeita, o tenha deixado mais calmo.

Na entrada, obras. Um pouco de lama no chão. Pessoas e motos indo e vindo. Olhares curiosos, gente apressada, um bêbado cambaleante, lixo. E eis que cheguei! Cerca de 300 metros favela adentro, a associação dos moradores de bairro com computadores empoeirados, um pequeno balcão e as caixas para as cartas deixadas pelo carteiro. Na outra porta, do lado esquerdo para quem olha, a entrada do projeto social que tenta dar uma trégua no universo miserável que o cerca. No meio, uma agência bancária.

Foi pelo banco que estava ali. E as pessoas que conheci e as coisas que vi me deixaram feliz de estar lá. Comi um feijão preto maravilhoso na menor casa que já dividi com tantas pessoas. Vi crianças lindas, negros fortes, mulheres bundudas e fuzis. Uma porção deles, ostentados com orgulho e recebidos com temor e respeito.

Não senti medo, senti foi pavor. E fiquei inconformada de ouvir que as pessoas estavam acostumadas a viver assim. Depois de três dias, entendi! Cada entrada minha na favela e era um festival de olás, ois e tudo bem. Tirando cumprimentos educados no elevador, meus vizinhos nem sabem quem sou. Lá, já me chamavam pelo nome ou de "paulista" a cada passo, com bons dias e boas tardes e sorrisos, dois dias depois. Crianças, adultos, velhos. E, quando me deparei no paraíso, as armas me lembraram que ainda nem havia passado do purgatório.

Entre vários pensamentos o que mais me apeguei foi de que existem muitos mundos, bem além dos nossos quintais e sonhos de consumo. Existem pessoas que vivem como se fosse impossível, sequer, sobreviver. E que a felicidade é muito mais subjetiva do que podemos medir e comprar. Ela estava lá, dividindo espaço com o medo, a ilusão de segurança e a esperança de que o amanhã melhore a paisagem e coloque comida no prato.

Procurando...

Venho perdendo a poesia
nos termos e na semântica
na graça e na ousadia
entre um caminho e outro

Na estrada há muito
cansada vão minhas pernas
e suado meu corpo

Quero o cheiro doce do mar
e a sutil brisa a me refrescar
cores, casas e amores
para ter com o que me preocupar

Em tantos sonhos tantos enganos
que eu nem consigo mais contar
e me adianto no curso
pensando no absurdo que é cegar o olhar.

Paulinha (sem data, mas de 2010)

23 agosto 2010

CONTEMPLAÇÃO

Quantas vezes me peguei
Admirando a noite
O céu escuro, as estrelas
Sua majestade, a Lua
Tentando entender o silêncio
Compreender o vento
Encontrar o tempo
Ouvindo o triste cantar da cigarra.

Quantas vezes admirei
A beleza mística e misteriosa
Da noite que antecede o dia
Que completa o ciclo
Do claro - escuro, da realidade - fantasia.

Paulinha, 30/04/99.

21 agosto 2010

ESCOLHAS

Vivemos a escolher e errar
E escolher e acertar
E apostar e perder
E chorar, se comover.

Vivemos escolhendo e reclamando
Esperando e cansando
Lutando e servindo
Tentando e se decepcionando.

Vivemos fazendo escolhas
Que podem nos levar a nada
Como podem nos trazer tudo
Mesmo assim nos descuidamos.

Como escolher certo sem saber do amanhã ?
Como acertar se não errarmos ?
Como crescer se não perdermos ?
Como viver se não amarmos ?

Escolher o certo desconhecendo o errado
Escolher o incerto ante à dúvida
Temer a derrota frente ao fracasso
Escolher a vida entre o certo e o errado.

São tantas escolhas
Do nascer até o morrer
Escolher o quê ?

Paulinha, 08/12/99

14 agosto 2010

A PÓLVORA

A pólvora,
No palito,
É um grito,
Do fogo.

A pólvora,
No artifício,
É um grito,
De festejo,
Do povo.

A pólvora,
Na bomba,
É um grito,
De socorro!

Paulinha 10/04/04

13 agosto 2010

Agora sou feliz

Agora sou feliz.

Sou feliz porque não mais analiso meu passado com nostalgia,

Nem projeto meu futuro baseada em utopia.

Vivo cada dia.

E sou feliz,

Um pouco,

Todo dia.


(fev/2004)