Quando lá cheguei não fazia frio, nem calor. Era uma temperatura amena, com um sol claro e brisa constante. Ele veio me receber do lado de fora, local seguro, como me instruiu.
Nos cumprimentamos. Cada vez mais acho que as pessoas aparentam a profissão que têm e nesse caso não foi diferente. Guilherme tinha mesmo cara de gerente de banco. Chegou sorridente, um pouco esbaforido, sem esconder a ansiedade que sentia da situação. Acredito que me encontrar, sorrindo e satisfeita, o tenha deixado mais calmo.
Na entrada, obras. Um pouco de lama no chão. Pessoas e motos indo e vindo. Olhares curiosos, gente apressada, um bêbado cambaleante, lixo. E eis que cheguei! Cerca de 300 metros favela adentro, a associação dos moradores de bairro com computadores empoeirados, um pequeno balcão e as caixas para as cartas deixadas pelo carteiro. Na outra porta, do lado esquerdo para quem olha, a entrada do projeto social que tenta dar uma trégua no universo miserável que o cerca. No meio, uma agência bancária.
Foi pelo banco que estava ali. E as pessoas que conheci e as coisas que vi me deixaram feliz de estar lá. Comi um feijão preto maravilhoso na menor casa que já dividi com tantas pessoas. Vi crianças lindas, negros fortes, mulheres bundudas e fuzis. Uma porção deles, ostentados com orgulho e recebidos com temor e respeito.
Não senti medo, senti foi pavor. E fiquei inconformada de ouvir que as pessoas estavam acostumadas a viver assim. Depois de três dias, entendi! Cada entrada minha na favela e era um festival de olás, ois e tudo bem. Tirando cumprimentos educados no elevador, meus vizinhos nem sabem quem sou. Lá, já me chamavam pelo nome ou de "paulista" a cada passo, com bons dias e boas tardes e sorrisos, dois dias depois. Crianças, adultos, velhos. E, quando me deparei no paraíso, as armas me lembraram que ainda nem havia passado do purgatório.
Entre vários pensamentos o que mais me apeguei foi de que existem muitos mundos, bem além dos nossos quintais e sonhos de consumo. Existem pessoas que vivem como se fosse impossível, sequer, sobreviver. E que a felicidade é muito mais subjetiva do que podemos medir e comprar. Ela estava lá, dividindo espaço com o medo, a ilusão de segurança e a esperança de que o amanhã melhore a paisagem e coloque comida no prato.
2 comentários:
Que triste...
(mas a pergunta que não quer calar é: com tantos bancos, em tantos lugares, o que vc foi fazer num que fica dentro de uma favela e por tantas vezes?)
Bjos!
as classes D e E estão consumindo e onde existe consumo existe mercado, ou seja, uma tacada de mestre abrir um banco em uma comunidade carente. O acesso a crédito fácil e barato ainda reforça o esforço de que os pequenos empreendedores se formalizem e contribuam, assim, com o desenvolvimento do país. As escolas, creches e parques estão chegando, o futuro vai trazer prosperidade, tenho certeza! (continuo uma eterna otimista)
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